PokéStops patrocinados estão prestes a comemorar dois anos de vida. E você ainda não conhece esse canal de mídia?

Mesmo que você seja totalmente alheio a Pokémon ou a jogos mobile, tenho certeza de que já ouviu falar de Pokémon Go – isso, ou esteve em coma pelos últimos três anos. Fale a verdade: você já teve a curiosidade de entender a razão daquele bando de gente se aglomerando em pontos aparentemente aleatórios da cidade, todos absortos em seus celulares. E, obviamente, a resposta unânime foi “ah, é Pokémon“.

Lançado em julho de 2016, o jogo que juntava a realidade aumentada da Niantic com os monstrinhos de bolso da Nintendo tomou o mundo como uma praga. Em seu período áureo, nos primeiros 80 dias de seu lançamento, Pokémon Go já contabilizava duas vezes mais acessos e tempo de uso que o poderoso Facebook. Os treinadores, ávidos em pegar todos, renderam à então modesta startup do Google a soma de 470 milhões de dólares – mais de 1.7 bilhões de reais, pela cotação da época.

“Ah, vá, Pokémon? Isso é coisa do passado.”

Treinadores celebram o lançamento de Pokémon Go em Roma, Itália, em 2016. (iStock/Getty Images)

Engana-se quem pensava se tratar de uma febre passageira: em maio deste ano a Pokémon Company, detentora da marca, celebrava o 800.000.000º download. Cruzando um número desses com dados do portal Newzoo, é possível afirmar que uma a cada três pessoas no mundo que jogam mobile tiveram Pokémon Go em seu celular em algum momento na vida.

Como se não fosse o bastante, no mesmo mês Pokémon Go figurou como o game mais lucrativo para Android no acumulado do ano – mesmo se tratando de um app gratuito. Nada fora do esperado para o título que faturou 950 milhões de doletas (3.5 Bi Reais) em 2017, garantindo o 9º lugar no ranking de jogos que mais lucraram no ano passado.

Tanto sucesso – e dinheiro – veio às custas de toneladas de atualizações e conteúdos. De lá pra cá foram Raides, lendários limitados, segunda e terceira gerações, Missões Míticas e, mais recentemente, trocas e listas de amigos. E como “grana” significa “AINDA MAIS grana” para homens de negócio, tudo deu origem a uma infinidade de produtos visando saciar a sede de consumo. E não me refiro apenas aos treinadores; às empresas também foi dada a chance de comer as raspas desse bolo bilionário. Foi assim que nasceram as PokéParadas Patrocinadas.

Pokémon Go em números
Confira alguns números de cair o queixo:
– 800M de downloads (1/3 da base de jogadores Mobile no mundo!)
– 5M jogadores ativos diariamente, 65M ao mês
– 2x mais acessos e tempo em uso que o Facebook em 2016
– 45% do tempo de uso de todos os games de Android somados de 2016
– Game mais lucrativo para Android em 05/2018 (104M USD/mês)
– 950M USD (3.5 Bi BRL) faturados em 2017

Multidão de treinadores em torno de um Ginásio em Chicago no lançamento dos Raides, em julho de 2017. (iStock/Getty Images)

PokéStops Patrocinados: o que são? Onde vivem? Como se reproduzem?

Exemplos de PokéStops Patrocinados. Note que existe um “Patrocinado” sutil no canto superior, demonstrando a parada bancada por uma marca. Via de regra, os locais indicam lojas físicas dos patrocinadores – ainda que existam exceções.

PokéParadas Patrocinadas são exatamente o que você pensa: locais que os treinadores buscam e se reúnem para conquistar recompensas, mas contendo um espaço publicitário virtual. Pense em um Outdoor digital, sem custo estrutural no mundo real, visível para todo mundo nas redondezas – ou, pelo menos, para todos que estiverem em Pokémon Go, o que representa 1/3 dos jogadores de mobile do mundo.

O primeiro patrocinador foi o McDonalds Japão. Já em outubro de 2016 foram mais de 3.000 restaurantes transformados em PokéStops exibindo a conhecida marca vermelha e amarela. E os patrocínios só cresceram. Não é preciso andar muito por Tóquio para se deparar com paradas da gigante da telefonia Softbank, lojas de conveniência 7-Eleven e Family Mart, rede de cinema Toho, cafeterias Tully – tantas quantas suas lojas abundantes na área metropolitana.

Nos EUA, entre os maiores mecenas estão o Starbucks (com 12.8 mil Poké-estabelecimentos, inclusive nos aeroportos), a Sprint (com as mais de 10.5 mil lojas), a Gamestop (coincidindo com o lançamento de Ultra Sun e Ultra Moon, para 3DS) e a T-Mobile (que, até outubro do ano passado, ainda oferecia franquia gratuita de consumo de dados para jogar Pokémon Go).

A cena se repete ao longo de inúmeros países, como Inglaterra, Canadá, Coreia do Sul e Índia. De acordo com um depoimento dado ao canal Adweek pelo presidente da Niantic, o note-americano John Hanke, atualmente os locais patrocinados ultrapassam a marca de 35.000.

Prepare-se para filas intermináveis… Ou não

Mesmo com tantas gigantes dispostas a investir na criação da Niantic, os primeiros resultados brilharam aos olhos e superaram expectativas. Menos de seis meses do lançamento da iniciativa, o estúdio de São Francisco exibia seu sorriso mais bonito e o fabuloso número de 500 milhões de visitas totais às PokéParadas Patrocinadas. Se considerarmos o período de 180 dias efetivamente em funcionamento, e assumindo como “visita” uma rodada de um jogador a cada 24h, foram mais de 2.7 milhões de pessoas ao dia divididas pelas lojas parceiras.

Longe de dizer que as paradas foram responsáveis por levar milhares de consumidores diariamente a esses estabelecimentos. Qualquer um que tenha experimentado Pokémon Go por cinco minutos sabe que basta estar a alguns metros de distância para aproveitar delas. Não é preciso entrar numa cafeteria para usar o PokéStop de um Starbucks, por exemplo – muito menos consumir algo. Mas pense nisso como uma comodidade, tal qual um carregador. Entre dois cafés de qualidade e atendimento idênticos, você iria àquele que lhe permite recuperar sua bateria.

Outro fator determinante são os ditos “paraísos de Poképaradas”. É muito comum, em Shoppings ou concentrações comerciais, haver altas densidades de Stops formadas, em grande parte, por patrocinados – prato cheio para treinadores de todos os tipos. Os casuais podem pausar a caçada para um café enquanto aproveitam dos prêmios a cada 5 minutos, enquanto os Hardcore acampam nesses lugares, usando Módulos Atrair pela chance de capturas raras – e, no melhor dos cenários, consumindo algo.

Um paraíso de Pokéstops patrocinados no shopping Fisketorvet, na orla marítima de Copenhagen, Dinamarca.

Um paraíso de Pokéstops patrocinados no shopping Fisketorvet, na orla marítima de Copenhague, Dinamarca.

CPV – Custo por visita

Treinadores aproveitando áreas de alta densidade de PokéStops nos Estados Unidos, como Shoppings e centros comerciais. Grande parte dessas paradas é formada por versões patrocinadas. (iStock/Getty Images)

As mais de 7.700 lojas da 7-Eleven na Coreia do Sul se tornaram PokéParadas Patrocinadas.

“Então ser uma parada patrocinada não garante lucro?”, você pergunta, no que respondo: só para a Niantic. Como uma mídia digital para o Facebook ou Google, a certeza do ganho é unicamente do veículo. Quando anteriormente mencionei “sem custo estrutural no mundo real”, naturalmente não quis dizer “de graça”. A exemplo da publicidade em redes sociais, esses PokéStops custam para serem mantidos.

Em uma entrevista dada ao jornal O Globo em 2017, a desenvolvedora revelou cobrar dos parceiros entre 15 a 50 centavos de dólar por visita única diária às paradas. Se levarmos em conta apenas o resultado inicial divulgado, Pokémon Go rendeu ao estúdio entre 75 e 250 milhões de dólares (278 milhões a quase 1 bilhão de reais) em mídia! Agora considere que o sistema está para completar seu segundo aniversário, que o número de paradas patrocinadas continua firme e forte e que, afora isso, o jogo já faturou 1.8 bilhões de dólares (6.7 bilhões de reais) só em vendas dentro do jogo. Ah, caro leitor, a Niantic vai muito bem, obrigado!

Fique ligado: em meu próximo artigo, falarei sobre as PokéParadas patrocinadas no Brasil, sua situação e como tirar o máximo de proveito dessa onda para sua marca!

Em um de seus raides semanais.

Sobre o autor

Eric Araki é jornalista especializado na indústria de games há 20 anos. Trabalhou nas maiores editoras e publicações do gênero no país, incluindo a EDGE, EGM, Nintendo World, EGW e Gamers. Nos últimos 11 anos, ocupou seu tempo como Head de Comunicação da Level Up, Publisher responsável por Ragnarök Online, Grand Chase, Warface e tantos outros. Mestre Pokémon desde o início da febre, foi editor da única revista especializada no assunto do Brasil, a Pokémon Club, pela Conrad Editora. Participa de Raides semanais com sua galera e fica maravilhado com essa nova geração de treinadores – vários deles mais jovens que alguns de seus Pokémon, que o acompanham desde Pokémon Yellow.